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segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

Qual a diferença entre jejuar e passar fome?



Algumas pessoas tem me pedido por e-mail este estudo sobre jejum. Agora ele está aqui no theo logos, para quem quiser dar uma olhada.



Texto base:
Seria este o jejum que eu escolheria, que o homem um dia aflija a sua alma, que incline a sua cabeça como o junco, e estenda debaixo de si saco e cinza? Chamarias tu a isto jejum e dia aprazível ao SENHOR.
Porventura não é este o jejum que escolhi, que soltes as ligaduras da impiedade, que desfaças as ataduras do jugo e que deixes livres os oprimidos, e despedaces todo o jugo?
Porventura não é também que repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres abandonados; e, quando vires o nu, o cubras, e não te escondas da tua carne?
Então romperá a tua luz como a alva, e a tua cura apressadamente brotará, e a tua justiça irá adiante de ti, e a glória do SENHOR será a tua retaguarda. Então clamarás, e o SENHOR te responderá; gritarás, e ele dirá: Eis-me aqui. Se tirares do meio de ti o jugo, o estender do dedo, e o falar iniquamente E se abrires a tua alma ao faminto, e fartares a alma aflita; então a tua luz nascerá nas trevas, e a tua escuridão será como o meio-dia. E o SENHOR te guiará continuamente, e fartará a tua alma em lugares áridos, e fortificará os teus ossos; e serás como um jardim regado, e como um manancial, cujas águas nunca faltam.
Isaías 58 5 a 11

Introdução
A bíblia nos traz muitos exemplos de jejum. Alguns duraram menos de um dia, outros duraram 40. Alguns foram decisões individuais, outros foram atitudes coletivas, demandadas por um rei ou profeta. Grandes personagens bíblicos jejuaram em momentos cruciais de suas vidas:

• Moisés jejuou no monte Sinai, antes de receber as tábuas da lei. (Ex 34:28)
• Ana jejuou no Templo, ao pedir um filho para o Senhor (1 Sm 1:7).
• Jesus iniciou seu ministério com jejum (Mt 4.2). Ele também ensinou que há tempo e lugar e um procedimento certo para se jejuar, como veremos mais adiante.
• Paulo jejuou logo após a sua conversão (At. 9.9) e depois fez do jejum uma prática constante em sua vida devocional (2 Co 6.5)

Concluímos que a prática do jejum é fundamental para o cristão. E mesmo assim, não há nenhum lugar nas escrituras que dê instruções precisas sobre este assunto. Deus poderia tê-las dado. As instruções do tabernáculo, do templo, da construção da arca foram todas passadas em detalhes.
Mas para compreender o jejum, é preciso percorrer as escrituras, examinar o texto, comparar. E esta é exatamente uma das grandes bênçãos de jejuar.

Tentando uma definição
Pelo texto de Isaías 58, fica claro que há dois tipos de jejum. Um deles agrada ao Senhor e nos abençoa. O outro, não faz a menor diferença diante de Deus. Onde está a diferença? Existe um jeito certo e um jeito errado de jejuar? Vamos começar definindo o jejum por aquilo que ele não é:

• Jejum não é greve de fome: jejuar é muito mais do que simplesmente abster-se de alimentos. Há uma grande diferença entre deixar de comer e oferecer um jejum a Deus.
• Jejum não é algo que pega carona: algumas vezes, precisamos deixar de comer por alguns motivos. Porque faremos exames laboratoriais, queremos emagrecer, estamos indispostos ou sem tempo de sair para o almoço. Tentar “encaixar” um jejum nestas oportunidades é uma péssima idéia. Como em todas as suas coisas, Deus exige primazia e exclusividade de motivos para o jejum.

Contudo, pelo que lemos na bíblia, podemos ter muitas certezas do que é jejuar:

• Jejum é uma prática, e não uma ordenança ou um dom. É algo acessível a todo cristão, e pode ser adequado de pessoa para pessoa.
• Jejum é quebrantamento. No original hebraico, a palavra jejuar significa “afligir a alma”.
• Jejum é um ato de fé, uma busca de proximidade maior com Deus através da negação de si próprio. Ao tomarmos a decisão voluntária de nos privarmos de alimentos, estamos mostrando disposição a Deus de priorizar as coisas espirituais e nossa vontade de ouvir sua voz e aumentar nossa intimidade com o Criador.

Motivos para Jejuar
Se quisermos praticar o jejum que agrada a Deus precisamos, antes de qualquer outra coisa, partir da motivação certa. A bíblia nos dá vários exemplos de jejuns que tiveram a motivação correta, e foram aceitos pelo Senhor:

Jejuar para vencer a carne:
Um dos principais problemas do cristão é sua luta com o velho homem. Através do jejum, temos a oportunidade de desenvolver domínio próprio e de aprender como submeter nossas vontades e necessidades a Deus. As lições que aprendemos ao lidar com as dificuldades em controlar nosso apetite por alimentos são de grande valor quando tivermos que lidar com nossos outros apetites: impulso sexual (apetite por sexo não abençoado), ganância (apetite desmedido por poder e dinheiro), inveja (apetite por apropriar-se do que não é meu), e todo o pecado (apetite por fazer coisas fora do padrão de Deus).
Paulo, em 1 Co 9:27, nos ensina a dominar nossa carne para que nossa vida cristã seja proveitosa: Antes subjugo o meu corpo, e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado.

Jejuar para vencer o mundo:
Sabemos que nossa luta contra os valores do mundo é constante. O mundo apregoa o prazer fast-food, tem que vir na hora e não dar trabalho. Assim, o mundo atua contra o preceito bíblico do domínio próprio, que prioriza o que é certo, não o que é “imediatamente prazeroso”. Como no fast-food, sabemos que esta satisfação imediata cobra um preço muito alto.
No Salmo 35: 11 a 13, Davi explica como usou o jejum para vencer sua luta contra o mundo: Falsas testemunhas se levantaram; depuseram contra mim coisas que eu não sabia. Tornaram-me o mal pelo bem, roubando a minha alma. Mas, quanto a mim, quando estavam enfermos, as minhas vestes eram o saco; humilhava a minha alma com o jejum, e a minha oração voltava para o meu seio.

Jejuar para vencer o diabo:
Jesus iniciou seu ministério com um Jejum de 40 dias, e estava em jejum quando enfrentou Satanás. Mais tarde, quando seus discípulos perguntaram porque Jesus conseguiu expulsar um demônio e eles não, o mestre respondeu associando 3 coisas: fé, oração e jejum.

Jejuar antes de tomar decisões importantes:
Há grandes exemplos na bíblia de pessoas que jejuaram antes de tomarem decisões importantes, fossem estas espirituais ou pessoais.
Como exemplo pessoal, Ana jejuou antes de pedir um filho a Deus (1 Sm 1.7).
O profeta Esdras, quando retornou do exílio na Babilônia trazendo parte do povo, agiu assim: Então apregoei ali um jejum junto ao rio Aava, para nos humilharmos diante da face de nosso Deus, para lhe pedirmos caminho seguro para nós, para nossos filhos e para todos os nossos bens. (Ed 8:21)
É uma boa idéia separarmos um tempo para jejum e oração antes de passos importantes como mudanças nas áreas profissionais, sentimentais e práticas da nossa vida. Quando colocamos nossas petições diante de Deus antes de tomarmos uma decisão, estamos dividindo com o Pai o peso desta decisão. É o caminho que nos dá mais segurança e evitará arrependimentos posteriores.

Jejuar em intercessão pela igreja, pelo povo de Deus ou por um irmão.
Na carta aos Efésios, Paulo nos ensina a vestir a armadura de Deus como orações e súplicas por todos os santos. Podemos fazer isto em jejum. Muitas vezes, tanto no Antigo quanto no Novo testamento, o povo de Deus jejuou em intercessão, tanto de forma individual quanto coletiva. Medite nestes textos:

Jl 1: 14 mostra um grande jejum coletivo: Santificai um jejum, convocai uma assembléia solene, congregai os anciãos, e todos os moradores desta terra, na casa do SENHOR vosso Deus, e clamai ao SENHOR.
2 Cr 20:3 nos mostra uma nação inteira jejuando por ordem do rei. Porque nós, povo de Deus, raramente jejuamos por nosso país? Então Jeosafá temeu, e pôs-se a buscar o SENHOR, e apregoou jejum em todo o Judá.
At 13:2, 3 destaca como a igreja permanecia em jejum e oração entes de tomar suas decisões e nos momentos de intercessão: E, servindo eles ao Senhor, e jejuando, disse o Espírito Santo: Apartai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado. Então, jejuando e orando, e pondo sobre eles as mãos, os despediram.

Jejuar porque vivemos os últimos dias
Em Lucas 5:35 Jesus diz que os discípulos não precisavam jejuar enquanto estavam com ele, mas que chegaria o dia em que seus seguidores estariam longe de sua presença, então precisariam jejuar. Sabemos que a cada dia a volta de Jesus se aproxima. Jejuar neste contexto é não apenas prepara-se espiritualmente, mas participar da batalha que já acontece.
Tipos de Jejum
O jejum, como já dissemos, não tem uma forma definida, e pode variar tanto na duração quanto no tipo de restrição.

O jejum típico: consiste em abster-se de alimento, mas ingerir líquido. Depois de 40 dias no deserto, Jesus teve fome, mas a bíblia não diz que teve sede. Alguns afirmam que os judeus, em seu jejum, bebiam uma mistura de água e mel, que garantia o mínimo de energia.

O jejum completo: em Atos 9:9, vemos que Paulo absteve-se de comida e bebida por 3 dias, após sua conversão em Damasco.

O jejum parcial: consiste em abster-se de apenas de um determinado tipo de alimento, como Daniel e seus amigos em Daniel 1. Cuidado aqui para não “encaixar” uma pequena dieta disfarçada de jejum. O objetivo é sempre espiritual.

Quanto a sua duração, o jejum mais comum é de 1 dia. Os judeus iniciavam seu jejum ao cair da noite (não jantavam) e quebrava-no ao cair da noite seguinte. Em Ester 4:6, assim como em Atos 9:9, o jejum durou 3 dias e 3 noites. Apenas Jesus, Elias e Moisés jejuaram 40 dias e 40 noites.

Como jejuar (as etapas do jejum)
A grande idéia de jejuar é contristar-se, e separar um tempo maior do que o convencional para permanecer na presença de Deus. Devemos aproveitar que não vamos tomar alimento e alimentarmo-nos de Cristo, (Confira Jo 4: 38). Ele é o pão vivo que desceu do céu, e tem para nós um alimento espiritual eterno.
Uma sugestão de seqüência é:

1) Estabelecer o propósito, o tipo e a duração do jejum.
2) Orar, colocando o jejum diante de Deus.
3) Quebrantar-se (Salmo 69:10)
4) Sondar o coração e pedir perdão dos pecados (1 Jo 1:9)
5) Planejar um tempo com Deus em oração, leitura da bíblia e louvor. Uma boa sugestão é aproveitar o que seria nosso tempo de almoço ou jantar para isto.
6) Ao quebrar o jejum, permanecer com Cristo. Em João 21:12, quando aparece aos discípulos depois de ressurecto e prepara alguns peixes, Jesus os convida: “vinde e comei”. O termo, no grego original é “vinde e quebrai o jejum”.

Conclusão: Uma vida jejuada
A realização do jejum é abençoadora, e devemos jejuar tanto por nós quanto pela igreja, tanto individualmente quanto no Corpo de Cristo. Contudo, o texto de Isaías 58 deixa claro que Deus não espera que tenhamos um ou outro dia de contrição para depois retornarmos às velhas práticas.
Deus espera que o jejum produza um efeito em nós, o de romper com o nosso legalismo, com o cristianismo de faz de contas e com a santidade e o compromisso de aparências. Deus quer um jejum de integridade.
O profeta Joel nos diz: “Santificai um Jejum” (Jl 1:14 e 2:15), porque o simples passar fome nada tem de santo. Deus nos deu os alimentos como bênção, devemos ser gratos ao Senhor pela fartura de cores, sabores e texturas, pelo banquete que ele preparou para nós.

Há grandes perigos no jejum:
• O perigo da Hipocrisia, como Jesus advertiu em Mt 6:16: E, quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas; porque desfiguram os seus rostos, para que aos homens pareça que jejuam. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.
• O perigo da vaidade, como Jesus mostra na parábola do fariseu e do publicano (Lc 18: 10 a 14).
• O perigo do mérito próprio: crer que há um mérito especial no jejuar pode levar à falsa impressão de que as boas obras salvam (“eu peco, depois jejuo e Deus perdoa”).
O jejum deve produzir um efeito constante, uma “vida jejuada”, em permanente estado de submissão, mansidão, contrição e reflexão.
Despedaçar o jugo do pecado, olhar o mundo com misericórdia, colocar o legalismo de lado, consagrar seu corpo, domar a carne, e, sobretudo ter uma atitude de adoração e busca sincera de Deus, este é o jejum que o Senhor abençoa e responde.

Bibliografia:

FALWELL, Jerry, O jejum bíblico, 1ª Edição - Belo Horizonte, MG, Betânea: 1983, 47 pág.
(recomendo a leitura deste livreto, é muito proveitosa).

Um comentário:

Unknown disse...

Parabéns pelo estudo... para alguns, esse costuma ser um assunto polêmico quanto aos propósitos de se jejuar e para outros simplesmente algo indiferente ou pouco explicado..
Que Deus continue te abençoando na obra!